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A mostrar mensagens de 2018

Touradas com velcro: mariquice ou tortura?

O touro apresenta-se na arena sempre de preto. Nunca veste meias brancas até aos joelhos ou calças justinhas. Também dispensa envergar uma jaqueta cheia de dourados ou um barrete garrido. É uma escolha sensata. Sobretudo para um bicho da sua envergadura que se quer dar ao respeito junto dos seus pares. Por isso, ainda antes de a lide começar, já está em vantagem. E, pensando bem, mesmo no final pode sair de cabeça erguida. Está a sangrar e tem meia dúzia de bandarilhas espetadas no lombo, sim senhor, mas não carrega o vexame de se ter apresentado em público como se fosse para uma festa campino-psicadélica. Infelizmente, a dignidade do touro corre perigo. Com o argumento de evitar o seu sofrimento, está em discussão a introdução das touradas com velcro em Portugal. Se a ideia for para a frente, o dorso do animal será coberto com esse tecido, assim como as pontas das bandarilhas. O que ninguém diz é que a dor psicológica será certamente bem superior à dor física. Com que cara é que

Aquele Ministro das Finanças que me tem cativo

O Governo de António Costa voltou a pulverizar mais um recorde. Depois do défice zero, conseguiu fazer mais cativações em três anos do que o executivo de Passos Coelho em quatro. Por uma questão de coerência, creio que, em vez do Parlamento, o Orçamento para o próximo ano deveria ser aprovado num cativeiro. Seria sensato, aliás, que os próprios portugueses começassem a ser criados também em cativeiro, não vá uma taxa de natalidade desregulada estragar a actual conjuntura macroeconómica. As grávidas seriam obrigadas a manter as crianças cativas no bucho durante meses ou mesmo anos até Mário Centeno concluir que o rebentamento das águas não poria em causa o crescimento da economia. Fica a sugestão. É curioso analisar as palavras utilizadas pelos políticos para descrever situações que todos nós conhecemos. Alguém que guarda ciosamente o seu dinheiro, não faz de quando em vez uma extravagância e não o empresta aos amigos é, para o cidadão comum, um unhas-de-fome, um forreta, um agar

Um condomínio privado chamado futebol

Houve um tempo em que o futebol era um desporto acessível ao denominado povo. Ligava-se a televisão em casa e, espante-se, via-se a bola em sinal aberto. Felizmente esse período de anarquia e balbúrdia acabou. O primeiro passo foi dado pelos canais por cabo que passaram a cobrar uma mensalidade a quem quer ver um jogo. Mais tarde, alguns clubes criaram os seus próprios canais e recentemente surgiu um novo operador que passou a deter os direitos exclusivos de vários campeonatos nacionais e da Liga dos Campeões. Ou seja, o futebol tornou-se um desporto pago não só para o espectador, mas também para o telespectador, com a agravante para este de que é cada vez mais difícil saber em que canal, ou melhor, em que plataforma passa o jogo e quanto é que terá de pagar por ele. O argumento de que não se vai ao estádio porque se vê melhor na televisão, cai assim por terra. Acredito que no futuro seja preciso entrar numa associação secreta, doar a casa e passar por vários rituais de iniciaçã

Avença se te avias

O mais recente caso da PJ, de seu nome tutti frutti , é a prova de que o futuro da corrupção no nosso país está em boas mãos e em melhores bolsos. A geração de corruptos que tem enchido páginas de jornais e o peito da pátria de orgulho já atingiu o zénite na mui nobre arte de furtar. É forçoso reconhecer que nos próximos anos iremos assistir ao seu ocaso. Caso Marquês, caso BES, caso BPN, caso Fizz, caso dos Submarinos, caso E-toupeira, caso Vistos Gold, caso Face Oculta, entre tantos outros, fazem um magnífico arco-íris de manigâncias que irá perdurar para sempre na nossa memória colectiva. Como é natural, havia o receio entre os portugueses de que depois da maré cheia se seguisse a maré vaza. Ou seja, após vagas sucessivas de tantas e tão boas moscambilhas, viria a inevitável travessia do deserto. Havia mesmo quem temesse que Portugal descambasse para um país de gente séria, cumpridora da lei, zelosa no pagamento de impostos e respeitadora do bem comum. “Será que Portugal corre o ri

Aí vem mais uma resposta parva sobre as férias

Agora que entrámos no Verão besuntados até os dentes de protector solar, é fundamental evitar que os episódios tristes dos anos anteriores se repitam. Todos nós estamos cansados de ouvir o mesmo. As frases que nos fustigam os ouvidos Verão após Verão são longas alamedas de terra queimada. Calcinada. Reduzida a cinza. Uma e outra vez. Já se esgotou a paciência para as imagens de sempre, repetidas ad nauseam. Ou seja, até expelirmos bílis verde de tanto enjoo. Espero, ou melhor, esperamos que nesta época estival tudo corra pelo melhor e que por uma vez não sejamos brindados com as respostas parvas do costume de quem regressa de férias.   É esse o meu desejo. Sinceramente chega deste flagelo que atormenta o nosso país há décadas. Já é dor suficiente assistir aos incêndios ou, pior ainda, à rentrée política do PSD do Pontal. Além de nada imaginativas, as respostas parvas dos colegas de trabalho e amigos à pergunta como correram as férias nada esclarecem sobre estas. Fica a pairar a dú

A melhor crónica do mundo

A selecção do melhor do mundo empatou a três bolas frente à Espanha na jornada inaugural do Mundial. Apesar de ser desnecessário mencioná-lo, os três golos da selecção do melhor do mundo foram marcados pelo melhor do mundo. No final do jogo, os companheiros que têm o privilégio de jogar ao lado do melhor do mundo destacaram a importância decisiva do melhor do mundo para o empate. Apesar de serem palavras elogiosas, não fizeram justiça ao melhor do mundo. Seria mais certeiro afirmar que assistiram à melhor exibição do mundo do melhor do mundo, podendo apenas ser suplantada por outra exibição do próprio melhor do mundo. O seleccionador que teve a honra de defrontar o melhor do mundo disse que não trocaria nenhum dos seus jogadores pelo melhor do mundo. Jogadores esses que, obviamente, ao terem defrontado o melhor do mundo atingiram o pináculo das suas carreiras. Mais do que azedume pelo empate concedido ao cair do pano com o melhor livre do mundo apontado pelo melhor do mundo, a s

As princesas prejudicam gravemente a saúde

Durante toda a minha infância ouvi histórias de príncipes que tiveram de matar dragões, lutar contra cavaleiros e enfrentar bruxas para conseguirem, enfim, ter a sua recompensa – a princesa. A trama narrativa era sempre a mesma. Havia um príncipe que punha em perigo a sua vida e uma princesa refastelada numa torre ou a dormir confortavelmente numa cama de dossel. Eles eram destemidos e façanhudos; elas frágeis e dondocas. Sempre achei que a repartição de tarefas nas histórias infantis não era equitativa e que, de quando em quando, o príncipe também deveria ter direito a tirar meia hora de sesta, enquanto a princesa, devidamente empoderada, ia combater uns seres maléficos. Mesmo sem o saber, sentia já a falta de uma Isabel Moreira que pugnasse pela igualdade de género nas histórias da minha meninice. Parece que finalmente a minha revolta silenciosa evoluiu para uma polémica ruidosa. Se não fosse a minha falta de perspicácia, teria facilmente percebido que, no que concerne a históri

Senhores passageiros, hoje é mais um dia com perturbações

Imagine que se cruza todos os dias na rua com um septuagenário visivelmente perturbado. Quando se aproxima, ouve-o debitar enfadonha e constantemente conselhos sobre segurança. O que faria? Provavelmente ligaria para a Segurança Social e dava conta da ocorrência. Então, por que razão ainda ninguém fez o mesmo com o Metro de Lisboa? Na verdade, como prenda pelas 70 velas sopradas este ano , o Metro de Lisboa merecia ser levado para um lar onde passasse o resto dos seus dias a assar castanhas à lareira e a relembrar (se ainda for capaz) as bonitas viagens que fez pela cidade. Obrigá-lo a continuar a transportar pessoas, quando já não tem capacidade para o fazer, é uma violência a que nenhum idoso merece ser sujeito. A prova de fé que milhares de utentes fazem diariamente ao deixarem-se ser transportados por ele, é o equivalente a aceitar ser guiado na selva por alguém com Alzheimer. Senão vejamos: diariamente esquece-se de aparecer à hora marcada, está permanentemente com pertu

A precariedade é essencial para o jornalismo

A presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, revelou que um terço dos jornalistas ganha menos de 700€ líquidos por mês . É um dado que não pode, nem deve, deixar ninguém indiferente. Como é que é possível que, em pleno século XXI, dois terços dos jornalistas continuem a viver acima das suas possibilidades e que alguns deles tenham mesmo contractos sem termo? Será que um dia chegaremos ao absurdo de vermos jornalistas a receberem pelas horas extraordinárias que fazem? Muitos defendem que a suposta precariedade dos jornalistas deve-se à ausência de um modelo de negócio sustentável . É um argumento pouco atendível, sobretudo quando olhamos para o nosso comportamento, enquanto consumidores de notícias. De uma forma geral, compreendemos a importância do jornalismo e temos sempre à mão de semear uma frase pronta a incensar as suas nobres virtudes. À míngua de originalidade, há quem se fique pela clássica afirmação de que o jornalismo é o quarto poder. Já outros preferem dize

Não perca os melhores momentos da época 2012/2013 na Polícia Judiciária

Os leitores que nasceram antes da década de 90 certamente estarão recordados das cassetes  vendidas pelo Jornal O Jogo com os resumos dos campeonatos nacionais narrados pelo inconfundível Gabriel Alves. Durante cerca de uma hora, o adepto regalava-se com os melhores jogos, golos e desempenhos dos jogadores que mais se destacaram ao longo da época. Tempos estranhos, esses, em que não era necessário ser especialista em direito ou social media para se poder discutir e apreciar futebol. Se hoje se voltasse a fazer o resumo de um campeonato, provavelmente a narração teria de conter as seguintes linhas: “Poucas horas antes do difícil jogo no Funchal, o presidente da equipa forasteira publicou um post no facebook com críticas à lista de convocados do treinador, amotinando a equipa contra si. Num acto com requintes de malvadez nunca antes visto, os capitães uniram-se e retiraram o like da página do presidente e as selfies que tinham tirado com ele na semana anterior. Quando aterraram no cont

A que horas passa o Apocalipse?

Foi com um profundo desapontamento que soube que os cientistas atómicos avançaram apenas 30 segundos os ponteiros do Relógio do Apocalipse . Os dois longos minutos que ainda faltam para a meia-noite são uma desfeita enorme para o excelente trabalho desenvolvido pela Humanidade em 2017. Creio que ninguém regateou esforços para dar cabo do planeta e até se conseguiu superar as expectativas. Agora só me resta voltar a pôr o champagne no frigorífico e explicar ao meu chefe que os comentários que teci sobre a actividade profissional isenta de impostos da sua mãe foram feitos em tom elogioso.  Olhando para o ano anterior, é difícil de compreender o que falhou para o relógio só ter avançado 30 segundos. Houve corridas ao armamento nuclear, abundância de tweets de Donald Trump, guerras civis, crises de refugiados, fenómenos climáticos extremos, degelo do Ártico, o Sá Pinto a falar francês … Estava convencido de que este cocktail seria mais do que suficiente para se assistir ao fim do mun

Este mundo não é para emigrantes pobres

Aristóteles defendeu que a filosofia nasce do nosso espanto perante o que nos rodeia. É por essa razão que Donald Trump é um dos maiores filósofos vivos da nossa época, com a vantagem de conseguir espantar-se com o mundo e simultaneamente espantar todos os que o ouvem. Ou seja, é alguém que além de filosofar induz os outros à reflexão filosófica. O mais recente motivo de espanto de Donald Trump foi a constatação de que a maioria dos emigrantes que procuram entrar nos EUA é oriunda de países pobres. Para ser fidedigno às palavras do presidente americano, a expressão usada foi “ países de merda ”. É refrescante ver um grande pensador deixar de lado os hermetismos que abundam na filosofia e esforçar-se para utilizar uma linguagem que todos percebam sem descurar, no entanto, a análise pormenorizada dos grandes temas da actualidade. No final da sua prelecção, Trump sugeriu que os EUA deveriam apostar antes em emigrantes da Noruega. Apesar de não constar no testemunho dos seus discípulo

CTT têm cartas para dar na gestão

As mais recentes medidas tomadas pela administração dos CTT mereceram veementes críticas da maioria dos portugueses. É de lamentar que ninguém tenha dado conta de que estamos perante decisões estratégicas de excelência que mereceriam figurar em qualquer compêndio de gestão. Na verdade, o presidente dos CTT, Francisco Lacerda, anunciou que 800 postos de trabalho serão eliminados nos próximos três anos. Perante o sobressalto que provocou, foi chamado de imediato ao Parlamento onde explicou o óbvio aos deputados: a redução do número de trabalhadores não implica qualquer degradação no serviço prestado. Alguns dias mais tarde, foi noticiado que 22 lojas poderão ser encerradas em breve. Mais uma vez gerou-se uma onda de indignação incompreensível e a empresa teve novamente de sair a terreiro para dizer aquilo que todas as pessoas de boa-fé já tinham percebido: “O plano de adequação não coloca em causa o serviço de proximidade às populações". É provável que dentro de algumas seman