Requiem por um antigo trabalhador
E pronto. Estou novamente desempregado. Os trâmites seguidos foram iguais a tantos outros. O contrato terminou e não havia folga orçamental para mais. Arrumei a minha secretária. Organizei a papelada para quem vier a seguir. Passei dados, códigos e passwords de acesso. Despedi-me. Distribuí beijos e abraços. Agradeceram o meu empenho e zelo profissional. Retribuí os encómios e desejei felicidades futuras. Não fiz promessas de visitar quem fica. Entreguei a chave do escritório e guardei o porta-chaves no bolso. Disse adeus. Fechei a porta. Fim. Agora tenho os dias por minha conta. O tempo à mão de semear. Os cafés preguiçosos nas esplanadas que for encontrando. Os pores-do-sol ao alcance da minha vontade. Confesso que a sensação não é nova. Já fora assim uma outra vez num passado não muito remoto. O desemprego tem sido para mim uma espécie de Páscoa: acaba sempre por vir, mas nunca sei bem quando. Só lamento que as comparações entre ambos os termos fiquem por aqui. Afinal, Jesus Cr...