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Menos Dalai Lama e mais offshores

É famosa a resposta de George Mallory quando lhe perguntaram por que razão queria escalar o Evereste: “Porque está lá.” Também poderíamos responder exactamente o mesmo se nos questionassem sobre o motivo de ainda nos indignarmos com as offshores: “Porque estão lá.” E talvez acrescentássemos com um encolher de ombros: “É assim. Não há nada a fazer.” São evidências como estas que nos confrontam com a nossa pequenez e impotência em alterar a ordem natural das coisas. Por muito que nos custe admitir, o Homem é apenas um joguete das forças da Natureza que tanto são capazes de criar num dia montanhas gigantescas e, no outro, paraísos fiscais.   Apesar de ombrearem em termos de beleza e de monumentalidade, parece-me que atingir o cume de uma montanha com quase nove mil metros de altura é relativamente mais simples do que abrir conta numa offshore. Perder o nariz enquanto se sobe o Evereste é uma brincadeira de crianças quando comparado com as terríveis dificuldades em ter um saco azul na

A clandestinidade é quem mais ordena

Na Ria Formosa começaram recentemente as demolições de várias casas construídas ilegalmente em zonas de risco. Como seria de esperar, os moradores têm protestado contra a decisão, o que tem sido frutífero: do número inicial de 369 construções a abater passou-se para 57. Esta redução é uma decisão acertada por parte do Ministério do Ambiente, porque mais do que nunca é preciso manter a qualidade elevada das obras clandestinas em Portugal. Provavelmente muitas das casas que vão ser demolidas pagavam uma mensalidade para ter televisão por cabo ou, pior ainda, tinham contrato em dia com a EDP, o que obviamente dá má fama aos verdadeiros clandestinos. Se é para andar a pactuar com situações regularizadas e em conformidade com a lei, então mais vale ficarem sem casa e abandonarem a clandestinidade de vez. A luta dos moradores, contudo, não tem esmorecido e nos últimos tempos apresentaram um argumento de peso. Segundo eles, as construções clandestinas contribuem para a protecção do habit

I like, logo existe

Na manhã gelada do dia 15 de Fevereiro de 2014, Lucie deixou a filha à entrada da escola preparatória Franklin Roosevelt, situada nos arredores de Bowling Green, cidade americana do estado de Kentucky. O nevão que caíra de madrugada tornara as estradas praticamente intransitáveis, obrigando-a a conduzir mais devagar do que o habitual. Por esse motivo, Elisabeth estava cerca de 10 minutos atrasada para a aula de Geografia, algo que detestava que acontecesse. A partir dessa manhã, no entanto, a sua costumeira e obstinada inflexibilidade em relação a faltas de pontualidade iria mudar drasticamente. A poucos metros da sala de aula, o silêncio do longo corredor foi cortado pelo barulho de duas rajadas de metralhadora misturadas com gritos de pânico e o tilintar de vidros partidos. Elisabeth ficou alguns segundos paralisada, em choque. “Não percebi logo de que lado viera o som e não sabia o que fazer”, conta. Uma nova saraivada de tiros mais intensa fê-la reagir e começar a correr na di

Ainda agora começou e já suspiro por 2018

Caro Presidente da República, O senhor estragou-me o ano. Bem sei que estamos no início, mas daqui em diante pouco mais me resta do que engonhar até chegar 2018. A razão do meu fastio será decerto a mesma de tantos outros portugueses, pelo que seria despiciendo estar a enunciá-la. Mas para memória futura e para que não se volte a repetir semelhante situação, irei fazê-lo. No dia 1 de Janeiro, a seguir ao jantar, recostei-me comodamente no sofá, enquanto contava os minutos para o início do seu discurso de ano novo. “Que novas calamidades, tragédias e depressões irá ele anunciar?”, perguntava-me, com uma impaciência difícil de conter. “Será a vinda do diabo ou regresso do FMI? E qual é a diferença entre ambos? Será ao nível das malfeitorias que se distinguem?”, filosofava, actividade a que me presto amiúde durante a digestão. Bastou, no entanto, ouvi-lo durante um minuto para me sentir defraudado. Por momentos, ainda pensei que na noite anterior tivesse apanhado por engano u