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A mostrar mensagens de 2012

Não há ambiente para a economia crescer

Aconteceu o que se esperava. O ministro Álvaro Santos Pereira cansou-se de assistir à profunda estagnação da economia nacional e apontou, corajosamente, o dedo ao culpado. O alvo da sua ira foi, como não podia deixar de ser, o fundamentalismo das regras ambientais que, de acordo com as suas palavras, “prejudica a nossa indústria e o nosso emprego”. É uma análise que peca por tardia. Há muito que todos os especialistas indicavam o ambiente e as regras que o protegem como um dos grandes obstáculos ao crescimento do país, apesar de algumas pessoas preferirem ignorar esse facto. Uma delas é a ministra Assunção Cristas, que criticou duramente o seu colega, chegando ao ponto de dizer que ficou “chocada” com as suas declarações. Portanto, só dentro do Governo, as palavras de Álvaro Santos Pereira conseguiram chocar a Ministra da Agricultura, a Ministra do Mar e a Ministra do Ambiente e Ordenamento do Território. Houve executivos que já caíram por abalos bem menores. Pelo que f

O que fazer para manter a bonecada da Steiff em Portugal

Portugal está no trilho de um ajustamento económico que tem tanto de justo como de igualitário. Além dos cortes generalizados nos salários, o desemprego abateu-se como um nevoeiro homogéneo sobre toda a nação. Toda? Não! Há pequenas bolsas que ainda resistem ao receituário administrado pela Troika. Uma delas localiza-se na insuspeita vila de Oleiros. Ao que consta, os seus habitantes julgam-se diferentes dos demais, ostentando uma das mais elevadas taxas de emprego do país. É verdade: no cair do pano sobre 2012 ainda há sítios onde a vasta maioria das crianças vê os pais saírem de casa para irem trabalhar em locais que lhes garantem uma remuneração mensal. Trata-se de um evidente escândalo que há muito merece ter cobro. É por isso que a deslocalização da fábrica alemã Steiff de Oleiros para a Tunísia deve ser encarada com o regozijo próprio de quem não faz da justiça social uma flor de retórica. Se tudo correr bem, em breve 103 trabalhadores ficarão sem trabalho, o que nivelará a

Previsões, opiniões e factos: vamos dar a César o que é de César

A justiça italiana condenou recentemente sete cientistas a seis anos de prisão por não terem conseguido prever o terramoto que destruiu a cidade de L’Aquila, em 2009. Trata-se de uma notícia reconfortante que demonstra que ainda há sítios no mundo onde a incúria não passa incólume. Na verdade, esta decisão é não só justa como pedagógica, porque vem pôr em sentido muitos outros charlatães que por aí andam. Estou-me a lembrar, por exemplo, daquelas pessoas que passam o tempo a aparecer na televisão, insufladas de afirmações muito assertivas e juncadas de termos técnicos. Quando as ouvimos até acreditamos nelas, mas logo percebemos o engodo assim que a realidade as desmente de forma categórica. Refiro-me, como já devem ter percebido, aos trabalhadores do Instituto de Meteorologia. Ou muito me engano, ou serão os próximos a ir fazer previsões para os estabelecimentos prisionais, caso continuem a trocar propositadamente o sol pela chuva e vice-versa. É bom que as autoridades andem de ol

Uma campanha que não levanta ondas

O Turismo de Portugal lançou recentemente uma campanha em que oferece um bilhete de regresso ao nosso país aos surfistas estrangeiros que não encontrem, durante três dias consecutivos, ondas com mais de meio metro de altura em 28 praias pré-seleccionadas. Trata-se de uma iniciativa que prima pela ousadia e irreverência, porque em apenas 700 quilómetros de costa, o mais provável é que ninguém descortine uma única vaga digna desse nome. Na verdade, esta campanha faz tanto sentido como o Turismo de Inglaterra ofertar o Palácio de Buckingham ao turista que ficar bronzeado numa semana sob o sol tórrido de Londres. Já o nível de atrevimento é equivalente ao daqueles políticos que prometem baixar impostos e aumentar salários caso encontrem o défice controlado, o PIB a subir e o desemprego a descer quando forem eleitos para o cargo de primeiro-ministro. Mais proveitoso seria se o Turismo de Portugal desse à Angela Merkel um bilhete de volta a Lisboa se porventura não encontrar qualquer Go

As cornadas que doem mesmo

Depois de terem ceifado a vida a um pastor em Setembro, os touros que campeiam livremente na aldeia de Segura, concelho de Idanha-a-Nova, voltaram a investir na semana passada. Desta vez foi um caçador que ficou gravemente ferido, com perfurações no pescoço, num dos pulmões e membros inferiores. Entretanto, não muito longe, mais precisamente em Vale Prazeres, vinte e duas ovelhas sucumbiram aos ataques de várias dezenas de abutres e grifos. Podia continuar a fazer o inventário de episódios semelhantes, no entanto, penso que a mensagem já terá passado: se há sítios em Portugal onde a vida ainda tem emoção e sabor, a Beira Baixa é claramente um deles. Não é apenas a fruição de dias bem preenchidos que tornam aquela região especial, mas também a ausência de preocupações. Ali as pessoas levam uma vida feliz e suave, como o fluir de um regato de águas transparentes, em contraste flagrante com a austeridade granítica que reveste o resto do país. Veja-se o exemplo da aldeia de Segura: o

A crise vai bem com Nestum de Figos

Quando em 2002 a situação do país piorou, registou-se um aumento no consumo de Nestum e, uma década depois, em virtude da grave crise financeira actual, a facturação da marca disparou sete por cento no primeiro semestre de 2012. A conclusão que se tira é que no que toca a pacotes anti-crise os portugueses preferem indubitavelmente o da Nestum. Trata-se de uma escolha óbvia: de todos os que surgiram até hoje, é de longe o mais doce e fácil de engolir. A substituição dos almoços e jantares habituais por papas é não só uma prova de abnegação mas também um acto patriótico dos portugueses, uma vez que a Nestum foi criada em Avanca, concelho de Estarreja, no ano de 1958. Se a crise continuar a rapar o bolso dos contribuintes, o próximo passo será trocar o gel banho pelo sabão macaco do Barreiro, a espuma de barbear pelo azeite Gallo de Abrantes e o Vítor Gaspar por um ministro que ajude de facto as finanças do país. Por outro lado, os portugueses estão a provar que as habituais defi

O ordenado mínimo desceu? Venha então mais um elogio da Alemanha

Há alguns meses, a chanceler Angela Merkel afirmou ter um “grande respeito” pelas reformas estruturais que estão a ser implementadas em Portugal. Mais recentemente, o ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, sublinhou, não sem uma ponta de ciúme, que o seu homólogo português, Vítor Gaspar, era “o homem certo no lugar certo” para debelar a crise. Acto contínuo, Philip Rösler, ministro da economia, curiosamente também da Alemanha, frisou que o caminho “muito difícil” seguido por Portugal “está a ser traçado de forma exemplar para a Europa e para o mundo”. Perante estes três casos, a primeira ilação a tirar é que os alemães, afinal, não são desprovidos de sentido de humor. Tamanha enxurrada de elogios só podia redundar em 81 milhões de invejosos em relação ao exemplo da Europa e do mundo. Na verdade, quando um trabalhador alemão ouve falar do desemprego em Portugal, é obrigado a pregar os olhos no chão, em silêncio. Não apenas por vergonha, mas também para ver se encontra a

Quem muito estuda pouco aprende

Um dos dias mais tristes na vida dos meus pais foi quando concluí a licenciatura. Ainda hoje me atormentam as palavras amarguradas da minha mãe quando me viu de canudo na mão: “Filho, nunca pensei que me pudesses desiludir desta maneira. Eu tinha tanta esperança que um dia viesses a ser ministro e tu fazes-me a desfeita de tirar um curso de quatro anos. Sai já desta casa!”   Infelizmente, e como sucede na maioria dos casos, o tempo veio dar razão aos meus progenitores. Nunca tive a argúcia de Miguel Relvas para condensar quatro anos de licenciatura num só. Além disso, sempre fui falho no “exercício de funções privadas, empresariais e de intervenção social e cultural” que me permitissem ter equivalência a 90 por cento das cadeiras do meu curso. Ao contrário de mim, o Ministro dos Assuntos Parlamentares foi, entre outras coisas, secretário-geral do PSD, deputado na Assembleia da República e presidente da Região de Turismo dos Templários. À luz deste percurso profissional, é fácil de

Vamos pôr Portugal no caixote do lixo

Depois do polvo Paul, o oráculo escolhido para adivinhar os resultados do Euro-2012 é um porco de Kiev. Se este demonstrar os mesmos dotes de adivinhação do que o molusco inglês, então Portugal será um dos grandes favoritos na competição. Como os suínos gostam de chafurdar em pocilgas e em todo o género de imundícies, basta que o nosso país mantenha a classificação de lixo por mais um mês para que o animal escolha sempre o lado onde está a bandeira nacional. Afinal, as agências de rating sempre têm alguma utilidade. Claro que esta teoria acarreta alguns perigos. Se um ucraniano imigrado em Portugal vai bufar ao porco que nós comemos os seus familiares por inteiro, o animal irá exilar-se no asseio das asseadas bandeiras alemã, holandesa e dinamarquesa, deixando-nos fora do Euro logo na fase de grupos. É preciso que a embaixada nacional esteja atenta para que o trabalho do suíno não seja condicionado por este tipo de informações. Se tudo correr como o previsto, o grande adversár

Tira já o curso em Estudos da Cereja segundo o método Luís Freitas Lobo

Por iniciativa da Câmara Municipal do Fundão, a cereja vai à Assembleia da República no dia 14 de Junho. Espera-se um discurso duro. Além das habituais queixas contra as aves, que continuam impunemente a bicar a sua pele, o fruto não deixará passar a oportunidade de denunciar a forma generalista e desleixada como é referido nas mercearias, supermercados e lojas de conveniência. Na verdade, quem está atento certamente já reparou nas diferenças de tratamento escandalosas, se não mesmo obscenas, entre a cereja e outros produtos. Quando peço um vinho, por exemplo, o empregado espera que eu especifique o meu pedido: é tinto, branco, verde, frisado, das planícies alentejanas, do douro vinhateiro, da península de Setúbal, da casta aragonesa, da casta syrah... Enfim, há uma profusão de escolhas a fazer antes de optar, regra geral, pelo mais barato da lista. Acto contínuo, segue-se toda uma mise-en-scène que vai desde a abertura da garrafa à degustação, passando pela poesia de rótulo, onde

Desemprego: uma oportunidade de futuro

Pedro Passos Coelho afirmou que o desemprego pode ser uma oportunidade para mudar de vida. E o país estalou de indignação. Chegámos a um ponto em que dizer o óbvio se tornou numa perfídia terrível para os espíritos mais sensíveis. Podia fazer aqui a apologia do primeiro-ministro. No entanto, prefiro transcrever um anúncio de trabalho que encontrei num café ao pé de minha casa. Acho que após a sua leitura, muita gente considerará injustas as críticas que fez. Desemprego procura novos colaboradores Somos uma multinacional com uma forte implantação em todo o mundo que neste momento atravessa um período de grande crescimento em Portugal. Por essa razão, procuramos novos colaboradores que queiram iniciar uma carreira promissora e contribuir para o nosso sucesso nas décadas vindouras. Em contra-ciclo com a maioria das empresas a operar em território português, obtivemos os melhores resultados da nossa história no primeiro trimestre de 2012. Já conquistámos 14,9% da quota de

A ditadura do cliente Pingo Doce

Passou despercebida a campanha promocional que o Pingo Doce realizou no Dia do Trabalhador. É sempre assim. Preocupada que anda a discutir questões menores como o desemprego, a dependência do petróleo ou as alterações climáticas, a comunicação social não noticiou o que realmente interessa aos portugueses. De facto, bem merecia algumas linhas de mediatismo o genial golpe de marketing do Grupo Soares dos Santos. Graças a ele, as pessoas conseguiram comprar num só dia os mantimentos suficientes para sobreviver a mais três mandatos de Pedro Passos Coelho e da Troika. Além disso, recriaram com um rigor invejável os acontecimentos ocorridos na cidade de Chicago em Maio de 1886. Quem não recordou a jornada de luta por melhores condições laborais na Praça Haymarket ao ver a jornada de luta pela posse do bacalhau seco nas lojas Pingo Doce? Quem não vislumbrou a reivindicação pelas oito horas de trabalho no protesto pelas oito horas de espera nas caixas dos supermercados? Quem não se lembro

Faça o luto com segurança: use o preservativo

Em Abril de 2012, o Presidente do Malawi, Bing wa Mutharika, morreu de ataque cardíaco aos 78 anos. No dia do funeral, os malawianos expressaram a sua dor da forma esperada perante um acontecimento desta natureza: compraram preservativos em larga escala. Já em Abril de 1974, os militares portugueses derrubaram uma ditadura repressora de quase meio século e o povo não encontrou melhor maneira de celebrar esse momento histórico que não fosse com a compra maciça de cravos. Sinceramente, nunca pensei ver o dia em que o Malawi desse uma lição de vanguardismo social a Portugal. É motivo para sentir vergonha. A minha última esperança é que um historiador mais perspicaz consiga, dentro em breve, demonstrar que, ao contrário do que se tem dito, o que os portugueses ostentavam na lapela dos casacos durante o dia 25 de Abril de 1974 eram preservativos com sabor a cravo. Só assim será reposta a minha confiança na virilidade democrática do povo lusitano. Os publicitários também têm razões

A crise num centro comercial perto de nós

Os portugueses falam sobre o corte do subsídio de Natal nas mesas dos cafés e encolhem os ombros. Vêem na televisão as notícias sobre o galope do desemprego e sorriem com indulgência. Ouvem na rádio que os impostos vão aumentar e perguntam por novidades. Lêem no jornal que não vão abrir novos centros comerciais em 2012 e gritam espavoridos: “Meu Deus, a crise chegou!” Na condição de apreciador confesso de grandes superfícies de consumo, trata-se de uma notícia que me deixa triste. É em momentos como este que tomo pulso à verdadeira dimensão da carestia que nos está a afectar. Olho para o mapa de Portugal e pergunto-me, com os olhos emudecidos, o que será das boas gentes da Beira Baixa sem um Dolce Vita Alcongosta; qual o futuro da juventude alentejana sem um Canal Caveira Shopping; que sorte estará reservada aos transmontanos sem um Fórum Alfândega da Fé. Para muitos portugueses, os fins-de-semana vão deixar de fazer sentido. Os lisboetas, por exemplo, terão de se contentar em

O Praça Velha morreu! Viva o Praça Nova!

O Tribunal da Relação de Lisboa deliberou que a Adega Cooperativa do Fundão não pode continuar a comercializar o vinho Praça Velha. Em causa está a alegada semelhança com o nome Barca Velha, da Casa Ferreirinha. “ Lendo-as e relendo-as, ouvindo-as e voltando a ouvi-las, lenta e rapidamente, o som das duas palavras, a memória visual e a imagem que nos fica é a de que não existe entre as marcas individualidade”, explicou o juiz. Depois acrescentou "esta pinga é mesmo boa" enquanto apalpava as pernas da escrivã e trauteava a canção Vinho do Porto de Carlos Paião e Cândida Branca Flor. Infelizmente, nenhum dos jornalistas presentes deu conta destes últimos factos. Refira-se, em abono da verdade, que a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa terminou com um problema que andava a depauperar as finanças de muitas famílias portuguesas. Está devidamente comprovado pela DECO que vários casais ficaram sem dinheiro para a prestação da casa após terem passado por uma garrafeira.

Bem-vindos ao Festival dos Tubérculos e Verduras

Na Cova da Beira há actualmente o Festival da Cereja, em Alcongosta, o Festival da Castanha, em Belmonte, ambos criados em 2007, o Festival da Cherovia, que principiou em 2008, na Covilhã, e o Festival do Cogumelo, organizado desde 2009 no Alcaide. Trata-se, como já devem ter percebido, de um forte surto festivaleiro que está a atacar a região. Por esse motivo, o Rancho Folclórico “Romeiros de Santa Luzia” tomou a atitude destemida e refrescante que há muito se justificava – realizou o Festival do Grelo no Castelejo. Face ao sarcasmo do parágrafo anterior, devo fazer a seguinte ressalva para evitar mal-entendidos: sou um grande fã de certames que têm como cabeças de cartaz tubérculos, legumes e todo o género de fungos. Aproveito até para confessar que espero com ansiedade pelo dia em que um autarca mais arguto organize o “Mega Festival das Hortaliças, Frutas e Derivados in Zêzere”. No palco principal poderiam actuar a cereja, a cherovia e os míscaros. Já os palcos secundários ficariam

Pela anglicização da língua portuguesa

Conheço várias pessoas que se queixam do alegado excesso de termos em inglês utilizados na língua portuguesa. Dizem-no como se se tratasse de uma realidade que estivesse aí, visível, audível, examinada, take for granted. Com toda a fairness, teoria mais rebuscada não pode haver. Estou em crer que terá nascido do underground mais profundo das suas mentes conspirativas. Não obstante, gostava que estivessem certos. Na verdade, quem dera à sinuosa língua de Camões ser polvilhada pela rectilínea língua de Shakespeare. Provavelmente passaríamos a ter outra desenvoltura e outra coolness na maneira de nos expressarmos. A nossa comunicação deixaria de se enredar nos enredados verbos irregulares, de escorregar na escorregadia conjugação dos particípios passados e de se atolar no excepcional atoleiro das excepções gramaticais. Passaríamos a falar num bom asfalto linguístico, liso, sem buracos, o que nos permitiria ir straight to the point sempre que quiséssemos abordar um assunto. Além disso, o

A arte trovadoresca dos falsos recibos verdes

A figura do falso recibo verde é uma óbvia recriação contemporânea dos trovadores medievais. Foi plasmada pelo patronato mais dado ao lirismo, esses grandes suseranos dos tempos modernos. A relação é tão evidente que não percebo como é que os estudiosos da literatura portuguesa ainda não deram por ela. Analisemos então os argumentos que sustentam a minha tese. O trovador do século XII cantava o seu amor superlativo, e tantas vezes inglório, à dama, que se mantinha distante e indiferente à coita daquele, nunca lhe dando um beijo que fosse. O falso recibo verde do século XXI submete-se a oito ou mais horas de trabalho, cumpre ordens, ouve responsos azedos, e tantas vezes injustos, e não consegue agradar ao patrão, que se mantém alheado do estado precário daquele, nunca lhe concedendo a esperança de um dia assinar contrato, por mais ténue que seja. Nas suas trovas, o segrel cantava um amor não correspondido. Era um vassalo dos humores da senhora, cuja frieza marmórea o privava da felici

O espaço-tempo segundo a CP

A CP propôs fazer a ligação da Guarda à Covilhã através de um percurso que demora seis horas e 41 minutos. A notícia, publicada no Jornal do Fundão de 23 de Fevereiro, suscitou, espante-se, críticas acerbadas. Na minha opinião, todas elas carecem de fundamentação e ignoram ostensivamente as evidentes vantagens da decisão da empresa. Em primeiro lugar, deixo a seguinte questão à jornalista que escreveu o artigo: na perspectiva de quem é que a viagem demora seis horas e 41 minutos? Do maquinista? Do viajante? Do avô que espera o neto na estação enquanto ouve o relato do Sporting da Covilhã? Não se trata de uma interrogação menor, porque escrever simplesmente que um determinado percurso demora muito tempo a ser realizado, demonstra que se andou a fazer gazeta às aulas de física. Desde o tempo de Albert Einstein que se sabe que um relógio em movimento avança mais devagar que um relógio estacionário. Portanto, para o viajante que saia da Covilhã às 12 horas, o percurso poderá muito bem de

Mais pieguice, sff

O primeiro-ministro exortou, há algumas semanas, os portugueses a deixarem de ser tão piegas. O seu pedido merece um comentário tão pertinaz quanto cuidadoso. Ponto prévio: não é líquido que o destinatário do discurso fosse o povo português em geral. Quando se olha para a idade dos assessores dos ministros, ganha força a hipótese de que Pedro Passos Coelho estivesse a dar um responso apenas àqueles para que se façam homens. Provavelmente está cansado de aturar as birras e as queixas dos rapazinhos que, coitados, recebem um espartano salário de três mil euros brutos após anos e anos de árduo labor a agitar bandeiras laranjas em comícios e caravanas. E ainda há quem diga que a austeridade não toca a todos. Seja como for, andou mal o primeiro-ministro ao dizer o que disse. Numa altura em que o país perdeu soberania financeira, em que o estado está a vender as empresas a estrangeiros, em que os nossos clubes de futebol podiam jogar na América do Sul, os portugueses sentem necessidade de

Saiam da vossa terra

Vivemos uma época difícil para quem tem ilusões. As pessoas perceberam que a crise veio para ficar; os desempregados interiorizaram que conseguir um contrato de trabalho é uma quimera; o primeiro-ministro consciencializou-se que terá de governar os portugueses durante todo o seu mandato. No entanto, enquanto aqueles se resignam à sua situação, este foi expedito a tomar a decisão que se impunha: convidou-os a abandonar o país. Quando tomou posse, Passos Coelho sabia que o facto de viver em Portugal o obrigava a lidar durante um certo período com o povo indígena. Ora desde os tempos de Sertório que se sabe que os lusitanos sempre foram o principal entrave ao trabalho de qualquer governante. Por isso, o primeiro-ministro não perdeu tempo em lançar mão do seu arsenal para expulsar de vez os Viriatos que resistem sadicamente ao apelo à emigração: pilhou os habitantes com a subida de impostos, dizimou os subsídios de Natal e de férias, devastou direitos sociais, arrasou pensões, entre outro