Quem muito estuda pouco aprende
Um dos dias mais tristes na vida dos meus pais foi quando concluí a licenciatura. Ainda hoje me atormentam as palavras amarguradas da minha mãe quando me viu de canudo na mão: “Filho, nunca pensei que me pudesses desiludir desta maneira. Eu tinha tanta esperança que um dia viesses a ser ministro e tu fazes-me a desfeita de tirar um curso de quatro anos. Sai já desta casa!”
Infelizmente, e como sucede na maioria dos casos, o tempo veio dar razão aos meus progenitores. Nunca tive a argúcia de Miguel Relvas para condensar quatro anos de licenciatura num só. Além disso, sempre fui falho no “exercício de funções privadas, empresariais e de intervenção social e cultural” que me permitissem ter equivalência a 90 por cento das cadeiras do meu curso. Ao contrário de mim, o Ministro dos Assuntos Parlamentares foi, entre outras coisas, secretário-geral do PSD, deputado na Assembleia da República e presidente da Região de Turismo dos Templários. À luz deste percurso profissional, é fácil de perceber que tenha sido dispensado de fazer Etologia e Antropossociobiologia ou Epistemetodologia da Ciência Política. Ninguém de boa-fé pode negar que a experiência acumulada nesses cargos o apetrecharam de um manancial de conhecimentos que o habilitam a responder de cátedra a todos os módulos leccionados em ambas as cadeiras, como “O debate criacionismo vs geração espontânea e a sua (ir)relevância” ou “Territorialidade e poder nas sociedades de primatas”.
Agora só me resta vergar a cerviz sob o peso de quatro anos de licenciatura e penar por um emprego. Espero que todos os que vão entrar em Setembro na faculdade não cometam a mesma loucura que eu. Por isso dirijo-me a ti, jovem que mê lês. Se queres ter uma vida desafogada e livre de preocupações, forma-te com a mesma facilidade de quem cozinha uma pizza ultracongelada: filia-te previamente num partido do poder, conhece pessoas influentes e polvilha o teu currículo com vários cargos políticos; entra na faculdade e espera oito a 12 meses até a tua licenciatura estar pronta; se quiseres, acompanha-a com uma carta de recomendação – cai sempre bem; depois, espera pacientemente que o teu partido suba ao poder para que sejas nomeado ministro; nesse intervalo, utiliza os teus contactos para "trabalhar" numa empresa que tenha relações privilegiadas com o teu partido; bom futuro!
Uma nota final para dizer que o primeiro-ministro considerou este caso um não-assunto. Esteve bem. É sem dúvida o termo que melhor define uma não-licenciatura.
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