O que fazer para manter a bonecada da Steiff em Portugal

Portugal está no trilho de um ajustamento económico que tem tanto de justo como de igualitário. Além dos cortes generalizados nos salários, o desemprego abateu-se como um nevoeiro homogéneo sobre toda a nação. Toda? Não! Há pequenas bolsas que ainda resistem ao receituário administrado pela Troika. Uma delas localiza-se na insuspeita vila de Oleiros. Ao que consta, os seus habitantes julgam-se diferentes dos demais, ostentando uma das mais elevadas taxas de emprego do país. É verdade: no cair do pano sobre 2012 ainda há sítios onde a vasta maioria das crianças vê os pais saírem de casa para irem trabalhar em locais que lhes garantem uma remuneração mensal. Trata-se de um evidente escândalo que há muito merece ter cobro.

É por isso que a deslocalização da fábrica alemã Steiff de Oleiros para a Tunísia deve ser encarada com o regozijo próprio de quem não faz da justiça social uma flor de retórica. Se tudo correr bem, em breve 103 trabalhadores ficarão sem trabalho, o que nivelará a taxa de desemprego da vila com a do restante país. Era esta lição de humildade e igualdade que os oleirenses há muito precisavam. E que ela tenha sido dada por uma administração germânica torna-a também pedagógica: se dúvidas houvesse, agora perceberam qual o país que manda de facto em Portugal.

Além de justa, a deslocalização da fábrica demonstra um profundo respeito pelos trabalhadores. Para quem não sabe, a Steiff produz peluches, cujos preços variam entre 200 e 1000 euros. Portanto, há ursos, girafas e demais bicharada que vale mais do que muitos dos salários mensais dos seus criadores. Era uma afronta ultrajante para estes que, assim se espera, vai acabar.

Esta situação leva-me a fazer o seguinte raciocínio: se a administração alemã não está satisfeita com os lucros, então talvez a solução passe por inverter os papéis. Ou seja, de ora em diante devem ser os peluches a fabricar portugueses. Provavelmente um urso da Steiff trocará de bom grado um ordenado mensal de 600 ou 700 euros por meia dúzia de latas de salsichas de Frankfurt. Além disso, nos tempos que correm uma girafa ou um cavalo, mesmo de pelúcia, devem exigir mais requintes no processo de fabrico do que um português do século XXI. Desta forma, poder-se-ia praticar um preço de mercado bastante competitivo que ajudasse a aumentar os proventos da fábrica.

É uma solução ridícula? Admito que sim. Mas não tanto como a tentativa infeliz de fazer lobby junto de Angela Merkel aquando da sua visita a Portugal. Qual era a ideia? Que a senhora ficasse muito preocupada com a situação dos trabalhadores de Oleiros? Oh santa ingenuidade! Se em situações normais os bichos de pelúcia da fábrica alemã pouco ou nada dizem à chanceler, ainda menos dirão quando tem a oportunidade de brincar por algumas horas com o seu peluche favorito: o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. É que este, ao contrário daqueles, anda, fala e, imagine-se, julga ter vontade própria. Com bonecos tão sofisticados como este, não há Steiff que resista.

Pensando melhor, se calhar a forma mais eficaz de garantir a continuidade da fábrica na vila beirã é passar a fazer Pedros Passos Coelhos em vez de animais de peluche. Põe-se o boneco dentro de uma caixa com a seguinte mensagem: “Torne-se numa pequena Angela Merkel: manipule o primeiro-ministro português à sua vontade” e, estou certo, será um sucesso em qualquer lar alemão. Em Portugal, a frase teria de ser ligeiramente diferente. Talvez algo deste género: “Torne-se um aprendiz de vudu com o boneco Pedro Passos Coelho”. Caso os oleirenses queiram continuar, vergonhosamente, a resistir ao desemprego, esta parece-me ser a solução mais indicada.

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