Faça o luto com segurança: use o preservativo
Em Abril de 2012, o Presidente do Malawi, Bing wa Mutharika, morreu de ataque cardíaco aos 78 anos. No dia do funeral, os malawianos expressaram a sua dor da forma esperada perante um acontecimento desta natureza: compraram preservativos em larga escala. Já em Abril de 1974, os militares portugueses derrubaram uma ditadura repressora de quase meio século e o povo não encontrou melhor maneira de celebrar esse momento histórico que não fosse com a compra maciça de cravos.
Sinceramente, nunca pensei ver o dia em que o Malawi desse uma lição de vanguardismo social a Portugal. É motivo para sentir vergonha. A minha última esperança é que um historiador mais perspicaz consiga, dentro em breve, demonstrar que, ao contrário do que se tem dito, o que os portugueses ostentavam na lapela dos casacos durante o dia 25 de Abril de 1974 eram preservativos com sabor a cravo. Só assim será reposta a minha confiança na virilidade democrática do povo lusitano.
Os publicitários também têm razões para se sentirem vexados. Na verdade, a morte de um presidente da república fez mais pelo uso generalizado do preservativo do que todos os anúncios caríssimos que esses charlatães nos andaram a impingir durante anos a fio. Os proprietários americanos da indústria dos contraceptivos há muito que perceberam esse facto. Por isso, quando na década de 60 começaram a ter prejuízo, não tiveram dúvidas de que a melhor solução para a retoma era assassinar John Frank Kennedy. Duas semanas após esse acontecimento fatídico, já tinham escoado o stock inteiro no país. Espero que os marketeers tirem as devidas ilações do falecimento de Bing wa Mutharika e façam dos chefes de estado o seu principal público-alvo.
O período de nojo do povo malawiano consiste, portanto, em praticar sexo em segurança durante dias a fio. Se nada de estranho acontecer, tudo indica que daqui por um ano o fenómeno irá repetir-se. Estou em crer que nessa altura já haverá cartazes publicitários espalhados por todo o país com os seguintes slogans: “O primeiro ano da morte do Presidente Bing wa Mutharika é patrocinado pelos preservativos Control” ou “Os preservativos Durex são a escolha inteligente para quem quer fazer o luto do Presidente Bing wa Mutharika com o máximo prazer e segurança”. A TAP também deve estar atenta a este novo nicho de mercado, porque o Malawi arrisca tornar-se na nova Meca do turismo sexual dos portugueses, destronando o Brasil.
De acordo com a explicação dada pelas fontes locais, o povo malawiano procurou consolar-se na intimidade da perda do presidente. Não me parece que algo de semelhante aconteça em Portugal quando a hora de Cavaco Silva chegar. Talvez apenas os bolos rei sintam vontade de procriar para atenuar a mágoa pela sua morte. Afinal de contas, será difícil substituir uma boca que lhes deu um protagonismo político de fazer inveja ao folar da Páscoa e ao tronco de Natal.
Em Gondomar também deve suceder um fenómeno idêntico quando o Major Valentim Loureiro for para a sua última morada. Neste caso, prevejo que os microondas, as máquinas de lavar loiça, as máquinas de lavar roupa, os fogões e as torradeiras se juntem num imenso bacanal em memória da pessoa que mais fez pela carreira política dos electrodomésticos em todo o mundo. E que demonstrou que o potencial desses aparelhos andava a ser subestimado há demasiado tempo: além de torrarem pão, aquecerem comida, lavarem pratos e roupa, também ganham eleições.
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