Uma campanha que não levanta ondas

O Turismo de Portugal lançou recentemente uma campanha em que oferece um bilhete de regresso ao nosso país aos surfistas estrangeiros que não encontrem, durante três dias consecutivos, ondas com mais de meio metro de altura em 28 praias pré-seleccionadas. Trata-se de uma iniciativa que prima pela ousadia e irreverência, porque em apenas 700 quilómetros de costa, o mais provável é que ninguém descortine uma única vaga digna desse nome.

Na verdade, esta campanha faz tanto sentido como o Turismo de Inglaterra ofertar o Palácio de Buckingham ao turista que ficar bronzeado numa semana sob o sol tórrido de Londres. Já o nível de atrevimento é equivalente ao daqueles políticos que prometem baixar impostos e aumentar salários caso encontrem o défice controlado, o PIB a subir e o desemprego a descer quando forem eleitos para o cargo de primeiro-ministro. Mais proveitoso seria se o Turismo de Portugal desse à Angela Merkel um bilhete de volta a Lisboa se porventura não encontrar qualquer Governo em funções aquando da sua visita ao país, no dia 12 de Novembro. Ou então a quem encontrasse a documentação relativa à compra dos submarinos que desapareceu sem deixar rasto do Ministério Público. Enfim, ideias não faltam.

No site onde foi publicada a campanha, pode ler-se que os surfistas têm de apresentar provas materiais de que não encontraram ondas superiores a meio metro. Só assim terão direito ao respectivo bilhete. Portanto, além da prancha é conveniente que passem a andar munidos de máquina fotográfica, câmara de filmar e, já agora, de uma fita métrica que lhes permita conferir, com a devida meticulosidade, a altura das vagas.

Mesmo que um surfista se predisponha a todo esse trabalho, a questão que se impõe é a seguinte: quem é a pessoa no Turismo de Portugal com competência para analisar a altitude das ondas? É importante sabê-lo, porque nem toda a gente tem capacidade para destrinçar uma vaga de quarenta e cinco centímetros de outra de cinquenta através da simples visualização de fotografias e vídeos amadores. Por isso, parece-me que é fundamental criar quanto antes a licenciatura em análise da altitude de ondas com recurso a aparato tecnológico, o qual, caso seja ministrado pela Universidade Lusófona, dará equivalência ao curso de biologia marítima e à carta de patrão de alto mar.

Concluída a formação académica, os recém-licenciados podem, e devem, criar a FAOSSE, ou seja, a Fundação de Análise de Ondas Surfadas por Surfistas Estrangeiros. É evidente que não terá um papel tão estrutural na sociedade portuguesa como a imprescindível Fundação para as Comunicações Móveis ou o incontornável Instituto Português de Santo António em Roma. No entanto, estou certo de que merecerá o seu quinhão do bolso dos portugueses. Não só porque se tratará de um trabalho enfadonho, mas também prejudicial para a saúde, devido à humidade marítima.

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