Bem-vindos ao Festival dos Tubérculos e Verduras

Na Cova da Beira há actualmente o Festival da Cereja, em Alcongosta, o Festival da Castanha, em Belmonte, ambos criados em 2007, o Festival da Cherovia, que principiou em 2008, na Covilhã, e o Festival do Cogumelo, organizado desde 2009 no Alcaide. Trata-se, como já devem ter percebido, de um forte surto festivaleiro que está a atacar a região. Por esse motivo, o Rancho Folclórico “Romeiros de Santa Luzia” tomou a atitude destemida e refrescante que há muito se justificava – realizou o Festival do Grelo no Castelejo.

Face ao sarcasmo do parágrafo anterior, devo fazer a seguinte ressalva para evitar mal-entendidos: sou um grande fã de certames que têm como cabeças de cartaz tubérculos, legumes e todo o género de fungos. Aproveito até para confessar que espero com ansiedade pelo dia em que um autarca mais arguto organize o “Mega Festival das Hortaliças, Frutas e Derivados in Zêzere”. No palco principal poderiam actuar a cereja, a cherovia e os míscaros. Já os palcos secundários ficariam reservados para os convidados, como a batata de Chaves ou a alfarroba de Tavira. Fica aqui a sugestão para quem quiser, e souber, aproveitá-la.

Criar festivais em que os grupos de música são trocados pelos grupos da roda dos alimentos é, sem dúvida, uma ideia inovadora. E também um atestado ao bom gosto dos habitantes da Cova da Beira. De facto, deve ser a única região no mundo que, por estes dias, prefere empanturrar-se com uma pratada de arroz de míscaros no Alcaide ou com uma cherovia frita na encosta da Estrela do que assistir a um concerto do Michel Teló. Maior prova de sanidade mental e inteligência não pode haver.

Analisando mais em pormenor o Festival do Grelo, ficamos a saber que foi realizado, em parte, com o intuito de chamar a atenção para a necessidade de requalificar o largo da aldeia. Ou seja, os habitantes do Castelejo acreditam que um legume pode fazer mais por eles do que os autarcas. É uma afronta inqualificável.

Como se não bastasse a contestação popular, os políticos têm agora de enfrentar a crescente popularidade das verduras e seus derivados. Prevejo uma luta ombro a ombro, uma vez que ambos têm um historial longo e rico de passividade e inacção face aos problemas do país. Até onde a minha memória alcança, não me lembro de nos últimos tempos ter visto um ministro ou um tubérculo que fosse a combater o desemprego. Como é óbvio, estou a ser injusto: há vegetais que têm provas dadas na melhoria da nossa saúde graças às suas propriedades terapêuticas.

Um dia poderá mesmo dar-se o caso de o distrito de Castelo Branco ser representado na Assembleia da República pela cereja, pela cherovia e pelo grelo. A acontecer, creio que seria a primeira vez em muito tempo que todos os deputados teriam uma ligação óbvia à região. Além disso, se esta tendência alastra pelo país, é provável que o parlamento se transfira de São Bento para o Mercado Abastecedor da Região de Lisboa. Depois nem o Medina Carreira conseguirá negar o facto de o futuro de Portugal ser verde e saudável.

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