Desculpe, mas não me lembro
A minha avó, uma respeitável nonagenária, troca amiúde os nomes dos netos e dos bisnetos. Outras vezes anda numa roda-viva à procura das chaves de casa. Normalmente estão na mala ou nos bolsos do casaco, apesar de ela jurar que procurara aí vezes sem conta. São situações que a transtornam. Com o intuito de a animar, mostro-lhe as comissões parlamentares de inquérito para que veja como há pessoas neste país com metade da sua idade em muito pior situação. “Estás a ver? Tu pelo menos nunca te esqueceste de pagar o que devias ao senhor da mercearia”, digo-lhe. É remédio santo: não só se sente revitalizada como até promete uma dúzia de pai-nossos e ave-marias em honra de Nossa Senhora da Boa Memória se refrescar a cabeça daqueles senhores engravatados que desfilam pelo ecrã. Não sei bem que fenómeno se passa nas comissões parlamentares de inquérito, mas talvez fosse bom mandar lá um geólogo para averiguar se no subsolo não passa um afluente do Letes, o rio do esquecimento. A última vít...