Mais alguns conselhos para o annus horribilis e negro e terrível de 2013
Ao nono dia de Janeiro, é mais
que provável que o leitor já conheça as “25 ideias para dar a volta a 2013” da revista Visão e as “60
ideias para sobreviver em 2013”
da revista do Expresso. Se tem navegado pela internet na última semana, então está
inteirado das “10 ideias para ganhar em 2013” do JN e dos dois “Guias Essenciais” para
2013 do Dinheiro Vivo, um dedicado ao que aumenta e o outro aos duodécimos. Caso
esteja a seguir tudo à risca, então está a ler este texto às escuras
para poupar electricidade, enquanto rega as hortaliças na banheira, a qual
deixou de utilizar para não consumir muita água. Se porventura os três colegas
com quem divide o seu T1 para conseguir pagar a renda o estiverem a
aborrecer, diga-lhes para irem comprar fruta da época de bicicleta ou para apostarem
nas moedas da América Latina, que este ano serão um investimento seguro.
Entretanto, a Direcção Geral de
Saúde não quis ficar de fora e deixou-nos as suas tábuas com as “dez decisões
alimentares para 2013” .
Farás exercício moderado quando fores às compras na comunidade local, diz o
sexto conselho. Sublinhe-se o uso do adjectivo moderado, sem dúvida bem
aplicado numa época em que correr mais de dez quilómetros pode significar viver acima
das possibilidades. Usarás ervas aromáticas, porque ajuda a “poupar algum
dinheiro” e pode “proporcionar momentos de descontracção e divertimento na família”,
observa o oitavo conselho. É uma análise perspicaz, afinal quem nunca galhofou
com o manjericão ou o hibisco durante a confecção das refeições? Apesar do
acerto do conselho, receio que para algumas pessoas seja incompatível com a
ideia 60 da revista do Expresso intitulada “deixar de fumar”. Na dúvida, é melhor
remeter o assunto para o Tribunal Constitucional.
Com tantas ideias, conselhos e
guias, não percebo porque é que a Protecção Civil não distribuiu na noite de 31 de Dezembro um manual de sobrevivência a todos os cidadãos portugueses para
“mais um annus horribilis”. Um documento que lhes dissesse, por exemplo, para
estarem perto da soleira de uma porta aquando da chegada do “ano negro” de 2013,
ou para estarem ao lado de uma saída de emergência assim que entrasse “o ano de
todas as incógnitas”, “o ano de todos os perigos”, “o ano de todas as
incertezas”. Como se vê pela quantidade de apodos com que o recém-nascido 2013 tem
sido brindado, a comunicação social já contribuiu com a sua quota-parte para que
a população não entre em pânico e veja com optimismo (moderado, como é óbvio), “um
ano de mais apertos”.
Parece-me, no entanto, que há
conselhos, pareceres e indicações que, inexplicavelmente, ficaram de fora. Pelo inegável contributo que podem dar à melhoria de
vida dos portugueses, merecem ser conhecidos quanto antes. Aqui ficam:
1 – Contraia dívidas acima de 100
milhões de euros para receber generosas e avultadas injecções de capital do
Estado. Pormenor não despiciendo: é muito importante que o valor seja bastante
elevado. Caso contrário poderá ficar sem casa e restantes bem materiais. Se tiver dúvidas, pergunte ao Emídio Catum e ao Fernando Fantasia.
2 – Nos dias de sol, leve os seus
filhos a passear pelo buraco do BPN. Diga-lhes que é o único buraco sem fundo à
face da Terra. Acrescente que foi feito por portugueses e que durante anos
passou despercebido a toda a gente. Remate com a informação de que é uma obra
de astrofísica e de charlatanismo de tal modo impressionante que o Estado
decidiu nacionalizá-la para que figure ao lado dos Jerónimos e da Torre dos Clérigos.
Ou seja, todos os portugueses estão a contribuir para a sua conservação. Se tudo correr bem, em
breve será Património Mundial da Unesco. De certeza que os seus filhos
ficarão orgulhosos.
3 – Esteja sempre atento a
oportunidades de trabalho. Qualquer altura do ano é favorável para apresentar a sua candidatura ao cargo de treinador do Sporting. Se preferir um trabalho mais
estável, venda Bordas d’Água e amendoins nas filas para os Centros de Emprego, ou então
candidate-se para o lugar de calceteiro no dia a seguir às manifestações em
frente à Assembleia da República.
4 – Diga aos seus amigos que é
coordenador do Observatório Económico dos Países da Bacia Mediterrânica.
Em breve estará a dar palestras um pouco por todo o país, o que sempre ajuda a
espairecer e a ganhar algum dinheiro.
5 – Sempre que o dinheiro
escassear, divida o pequeno-almoço em duodécimos para que dure o dia todo.
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