Não perca os melhores momentos da época 2012/2013 na Polícia Judiciária
Os leitores
que nasceram antes da década de 90 certamente estarão recordados das cassetes vendidas pelo Jornal O Jogo com os resumos dos campeonatos nacionais narrados
pelo inconfundível Gabriel Alves. Durante cerca de uma hora, o adepto regalava-se
com os melhores jogos, golos e desempenhos dos jogadores que mais se destacaram
ao longo da época. Tempos estranhos, esses, em que não era necessário
ser especialista em direito ou social
media para se poder discutir e apreciar futebol. Se hoje se voltasse a
fazer o resumo de um campeonato, provavelmente a narração teria de conter as
seguintes linhas: “Poucas horas antes do difícil jogo no Funchal, o presidente
da equipa forasteira publicou um post no facebook com críticas à lista de
convocados do treinador, amotinando a equipa contra si. Num acto com requintes
de malvadez nunca antes visto, os capitães uniram-se e retiraram o like da
página do presidente e as selfies que tinham tirado com ele na semana anterior.
Quando aterraram no continente, o treinador publicou um tweet enigmático em que
dava a entender que não iria continuar ao serviço do clube na próxima
temporada. A propósito, o jogo terminou empatado a duas bolas.” A descrição das
pré-épocas actuais seria igualmente diferente do que sucedia há 20 anos em que,
de forma algo incompreensível, diga-se, se dava destaque à compra e venda de
jogadores: “No defeso, o presidente não enjeitou esforços no reforço do plantel
com quatro novos directores de comunicação especialistas em trogloditismo nas
redes sociais e cinco comentadores recrutados nos melhores snack-bares da
Madragoa e Moscavide para irem fazer arruaça para a televisão. Com tamanha
qualidade, a equipa iria certamente ombrear com os outros candidatos na luta
pelo título, o que acabou por acontecer.”
Tenho pena
que a publicação desses resumos dos campeonatos não tenha continuado, sobretudo
porque apesar de ser sobre futebol conseguia a proeza de falar mesmo de futebol,
daquele em que há duas balizas e onze jogadores de cada lado. Felizmente, a Polícia
Judiciária prepara-se para preencher esse vazio com a reposição dos 163 jogos do Benfica dos últimos cinco campeonatos. Será uma longa-metragem de 14.670
minutos e uma excelente oportunidade para fazer uma análise crítica comparada
ao desempenho do clube ao longo de meia década. É também um trabalho que
qualquer adepto de futebol que se preze gostaria de ter. Por essa razão, quero
aproveitar este espaço para me candidatar ao cargo de técnico de visionamento
de jogos de futebol do Benfica. Sei, como é óbvio, que não se trata apenas de ver
os jogos, mas também de relacioná-los com emails e um alegado esquema de
corrupção que terão ajudado o clube a somar vitórias até se sagrar tetracampeão
nacional. Estou certo de que as minhas aulas de português e de educação física me
deram as competências necessárias para aliar a recensão crítica de
correspondência electrónica com os desempenhos de Cardozo e Jonas e demonstrar
que os golos obtidos por ambos foram facilitados pelas defesas adversárias.
Aqui fica a minha candidatura.
Entretanto,
a direcção do Benfica já reagiu, exigindo que as partidas dos seus rivais nas
últimas duas décadas sejam igualmente alvo de análise. Se a Polícia Judiciária acatar
esta sugestão, então talvez deva avançar com a construção de um bar nas suas instalações.
Com um consumo mínimo de 5 euros, os adeptos poderão reviver os melhores jogos
dos seus clubes num plasma de grandes dimensões enquanto discutem, por exemplo,
o enquadramento jurídico do Campomaiorense - FC Porto ou à luz de qual artigo
da Constituição se deve proceder à visualização do Leça - Sporting. No final, acabarão
a discutir com fervor a legalidade do email que levou o defesa central do
Olhanense a falhar o corte no golo do Sporting ou se o artigo 247º do Código de
Processo Penal estava em fora de jogo no lance do terceiro golo do Benfica -
Nacional. Prevejo que em breve os adeptos comecem a transformar-se em Marinho
Freitas Pinto, ou seja, um híbrido de Marinho e Pinto e Luís Freitas Lobo. Talvez
nessa altura o futebol entre de vez na legalidade.
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