Um pentelho pela democracia

Afirmou Eduardo Catroga que os jornalistas “andam a discutir pentelhos” em vez de se centrarem nas chamadas questões importantes do país. Além de se tratar de um achaque inqualificável à zona púbica de todos nós, é uma afirmação que não corresponde à verdade dos factos e que merece ser rebatida quanto antes.

Infelizmente, nunca vi político ou jornalista que fosse abordar com a profundidade devida a pertinente temática dos pentelhos. É um assunto que urge trazer a terreiro, o que seria um inequívoco sintoma da maturidade da nossa democracia, a qual, sublinhe-se, aos 37 anos de idade já deverá ter uma zona púbica bastante frondosa.

Constato, no entanto, que nenhum dos partidos dedicou uma mísera linha aos pentelhos nos respectivos programas eleitorais. E a Troika ignorou-os ostensivamente, não fazendo um único reparo a esta problemática fracturante. É uma falha inadmissível, que apenas demonstra como os políticos andam desfasados das grandes questões do domínio púbico.

Será que o PP propõe um corte generalizado nos pentelhos dos portugueses ou prefere fazê-lo por escalões, assegurando um pentelho mínimo aos mais desfavorecidos? Está o PS disposto a alienar parte dos pentelhos nacionais aos mercados internacionais para saldar a nossa dívida? E o BE avançará com uma proposta que defenda a soberania dos nossos pentelhos, nomeadamente em relação às agências de chatos? E quem já não tem pentelhos continuará a beneficiar da protecção da Segurança Social? São estas as questões que eu gostava de ver debatidas pelos líderes partidários, porque se trata de um assunto palpável não só a mim como à esmagadora maioria dos portugueses. 

Os poetas, aliás, há muito que perceberam o potencial lírico do pentelho. Aníbal Beça escreve no poema Canto I que os pentelhos são a “relva da vagina” e que desenham “raízes de alfazema”. Já Bocage, em Ribeirada – poema de um só canto, informa-nos que o Ribeiro, habitante de Tróia e “preto na cara, enorme no mangalho”, tem “colhões ardentes” adornados por “hirsuto ríspido pentelho”, o que nos dá um retrato muito mais completo da situação socioeconómica da Península de Setúbal do que qualquer Censo.

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