CTT têm cartas para dar na gestão
As mais
recentes medidas tomadas pela administração dos CTT mereceram veementes
críticas da maioria dos portugueses. É de lamentar que ninguém tenha dado conta
de que estamos perante decisões estratégicas de excelência que mereceriam
figurar em qualquer compêndio de gestão.
Na verdade, o presidente dos CTT, Francisco Lacerda, anunciou que 800 postos de trabalho
serão eliminados nos próximos três anos. Perante o sobressalto que provocou, foi
chamado de imediato ao Parlamento onde explicou o óbvio aos deputados: a redução
do número de trabalhadores não implica qualquer degradação no serviço prestado.
Alguns dias mais tarde, foi noticiado que 22 lojas poderão ser encerradas em
breve. Mais uma vez gerou-se uma onda de indignação incompreensível e a empresa
teve novamente de sair a terreiro para dizer aquilo que todas as pessoas de boa-fé
já tinham percebido: “O plano de adequação não coloca em causa o serviço de
proximidade às populações". É provável que dentro de algumas semanas seja
anunciado outro plano de reestruturação que consistirá no fim dos envelopes, dos
selos e da frota de distribuição dos CTT. Caso seja mesmo necessário, a
administração emitirá um novo comunicado para esclarecer que a medida não só
não irá pôr em causa o normal funcionamento da empresa como até será um estímulo
importante para algumas actividades económicas que se encontram em estagnação,
como é o caso da columbofilia.
A mestria
das decisões dos CTT que conseguem reduzir o número de funcionários e encerrar
lojas sem nunca pôr em causa a qualidade do serviço prestado é, sem sombra de dúvidas,
um caso de estudo. No fundo, assemelha-se àqueles números em que o equilibrista
não deixa cair nenhum prato apesar de os seus pontos de apoio serem cada vez
mais precários. O potencial desta filosofia de gestão é tão vasto que seria uma
pena que a sua aplicabilidade se reduzisse apenas ao mundo empresarial. Se
pensarmos bem, há múltiplas formas de transpô-lo para a vida de cada um de nós.
Quem não gostaria, por exemplo, de se despedir do trabalho pela manhã, à tarde comprar
um Audi A8 e à noite explicar calmamente à família que o seu plano de
reestruturação não põe em causa a sua estabilidade financeira? Ou quem nunca sonhou enganar
a cara-metade e perante as injustas e inevitáveis acusações de adultério, esclarecer
pacientemente que aquele plano de interacção intensivo não coloca qualquer entrave à relação de
proximidade entre ambos? É importante que as universidades comecem desde já a
trabalhar neste novo modelo de gestão, tanto mais que quero avançar brevemente com
um plano de adequação pessoal que passa pelo meu despedimento seguido da aquisição
de um iate.
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